Algum Trecho - A Cabana

(...)

Mack finalmente se deu conta do que Jesus estava sugerindo. Tratava-se de andar sobre a água. Antecipando sua hesitação, Jesus afirmou...
- Vamos Mack. Se Pedro conseguiu...
Mack sorriu nervosamente. Pra ter certeza, perguntou de novo:
- Você quer que eu ande sobre a água até outro lado. É isso que está dizendo, não é?
- Você entende rápido, Mack. Tenho certeza de que ninguém consegue enganá-lo. Venha, é divertido! - Ele riu
Mack foi até a borda do cais e olhou para baixo. A água batia suavemente apenas uns 30 centímetros abaixo de onde ele estava, mas era como se fossem 30 metros. A distância parecia enorme. Mergulhar seria fácil, ele fizera isso mil vezes, mas como se desce de um cais para a superfície da água? Olhou para Jesus, que ainda estava rindo.
- Pedro teve o mesmo problema: como sair do barco? É como descer de um degrau de escada. Nada de mais.
De novo Mack olhou para a água e de volta pra jesus.
- Então por que é tão difícil para mim?
- Diga do que você tem medo, Mack.
- Bem, vejamos. Do que tenho medo? Bem, tenho medo de parecer idiota. Tenho medo de você estar se divertindo às minhas custas e de afundar como uma pedra. Imagino que...
- Exatamente - interrompeu Jesus. - Você imagina. A imaginação é uma capacidade poderosa! É um poder que o torna muito parecido conosco. Mas, sem sabedoria, a imaginação é uma professora cruel. Quero lhe fazer uma pergunta: você acha que os humanos foram criados para viver no presente, no passado ou no futuro?
- Bom - disse Mack, hesitando. - Acho que a resposta mais óbvia é que fomos criados para viver no presente. Estou errado?
Jesus deu um risinho.
- Relaxe, Mack, isso não é um teste, é uma conversa. Você está corretíssimo, por sinal. Mas agora me diga onde você passa a maior parte do tempo em sua imaginação: no presente, no passado ou no futuro?
Mack pensou por um momento antes de responder.
- Acho que eu passo muito pouco tempo no presente. Passo grande parte dele no passado, mas na maior parte do tempo estou tentando adivinhar o futuro.
- Você não é diferente da maioria das pessoas. Quando estou com vocês, vivo no presente. Não no passado, se bem que muita coisa pode ser lembrada e aprendida ao se olhar para trás, mas somente para uma visita, não para uma estada demorada. E certamente não vivo no futuro que você visualiza ou imagina. Mack, você percebe que sua imaginação do futuro, que é quase sempre ditada por algum tipo de medo, raramente me coloca lá com você, se é que me coloca?
De novo Mack parou e pensou. Era verdade. Ele passava um bocado de tempo se aborrecendo e se preocupando com o futuro, e em sua imaginação o futuro geralmente era muito sombrio, deprimente e mesmo horrível. E Jesus também estava correto ao dizer que, do modo como Mack imaginava o futuro, Deus estava sempre ausente.
- Por que faço isso? - perguntou Mack.
É sua tentativa desesperada de conseguir algum controle sobre algo que você não pode controlar. É impossível ter poder sobre o futuro, porque ele não é real, e jamais será. Você tenta brincar de Deus imaginando que o mal que teme pode se tornar realidade e depois tenta fazer planos para evitar aquilo que teme.

(...)

Mack olhou de novo para a água e soltou um suspiro enorme, que saiu do fundo da sua alma.
- Há um longo espaço para eu percorrer.
- Só uns 30 centímetros, é o que me parece - riu Jesus, pondo a mão no ombro de Mack. Ele só precisava disso para descer do cais. Para tentar ver a água como sólida e não se atrapalhar com o movimento dela, olhou para a margem distante e levantou os sacos do lanche.
O pouso foi mais suave do que ele havia pensado. Seus sapatos ficaram molhados no mesmo instante, mas a água não subiu nem mesmo aos tornozelos. O lago ainda se movia ao seu redor e ele quase perdeu o equilíbrio por causa disso. Era estranho. (...) Virou-se e viu Jesus ao seu lado segurando os sapatos e as meias numa das mãos e sorrindo.
- Nós sempre tiramos os sapatos e as meias antes - disse ele rindo.
Mack balançou a cabeça rindo também enquanto se sentava de novo a beira do cais.
- Acho que vou fazer isso.
Tirou os sapatos, espremeu as meias e enrolou as pernas da calça.

Trecho retirado do livro A Cabana - William P. Young

Texto retirado do Blog Radiante

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